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12 de novembro de 2003

LÁ LONGE NO HORIZONTE

Um convite-surpresa feito pelo novo Secretário de Cultura do Município de Uruguaiana, o compositor, instrumentista e cantor Bebeto Alves, me abre a possibilidade de caminhar novamente naquelas ruas largas e bonitas, visitar meus conterrâneos queridos, abraçar antigos e novos amigos, rezar junto aos meus pais, irmã e tias que lá estão em repouso, e conversar sobre literatura, essa linguagem disciplinada para a liberdade absoluta.

SUSTO NO ERMO - O assassinato do jovem casal na mata da sinistra serra de Juquitiba, reavivou os ódios contra a maneira frouxa com que a justiça leva a impunidade de jovens menores de idade, que abusam das prerrogativas da lei para aprofundarem seus crimes. Esse é um assunto tenebroso, que inclusive gerou uma briga feia entre dois deputados na Câmara Federal ontem, com direito a xingamento e sopapos (uma covardia, pois um dos parlamentares é mulher). Sinal que vamos adiando as decisões importante para o dia do São Nunca, deixando que medre solta a loucura da violência e recalque na sociedade o mau conselheiro do ódio total. É preciso resolver esse impasse, para que aos poucos (junto com outras providências fundamentais, como a distribuição justa da renda) tenhamos a paz de volta, já que vivemos atualmente em guerra total de todos contra todos. Precisamos de paz porque esta é a ordem natural do espírito humano, porque a guerra é a ruptura do que a vida tem de melhor e mais importante, porque viver em sossego é a maior bênção a que podemos sonhar. Precisamos de anistia uns com os outros, de perdão e convívio pacífico, de tolerância mil e ressentimento zero. Não se trata de discurso descartável, mas questão de sobrevivência.

COMPARTILHAR - Fico felicíssimo com a participação dos meus pouquíssimos leitores, como Mauro Mendes (jmaurom@terra.com.br), que publicou aqui um belo comentário sobre nossa vida com os livros. Vou transcrever, para que seu depoimento faça parte do espaço, digamos, oficial, desta coluna: “Nei, tenho sempre lido o blog. Não deixe de escrevê-lo! Seguem alguns comentários. 1. Sobre "Rolava Proust" - Teu comentário me fez voltar no tempo. Lá em casa, de certo modo, também rolava. Eu tinha uns 10 anos e lembrei-me de que meu pai tinha um livro misterioso, que eu não conseguia ler(acho que nem ele!) e que era "Du côté de chez Swann" ou "Un amour de Swann", do "tal" de Proust. Embora ainda não pudesse lê-lo, ficou o exemplo, a "dica", a sinalização sobre a importância da leitura. No mais, eu lia tudo que me caía nas mãos, inclusive os livros que meu pai trazia para minha irmã, como os de M. Delly, que eram só para meninas(Seriam mesmo só para meninas?) Sem dúvida, são divertidas, hoje, estas nossas fantasias da infância, como pensar que os livros de Proust eram para moças. Neste caso, talvez se explique pelo fato de que ele tem um livro chamado "À l'ombre des jeunes filles en fleur". Não sei como a Editora Globo traduziu este título, mas talvez tenha vindo daí a tua confusão. A propósito, alguém já encontrou o tempo perdido de Proust?” Tempo e memória em Proust, Mauro, tornaram-se realidades espirituais de grande complexidade. O texto dele é a suprema glória da literatura. Continua Mauro: 2. Morro dos Ventos Uivantes – “É um dos grandes livros já escritos. Está na minha lista. Queria transcrever, fazendo um gancho, um comentário de Camus, na Introdução do seu contestado livro "L'Homme Révolté"(A tradução abaixo é minha. Se preferires mando o texto original): " Há crimes cometidos por paixão e crimes de lógica. O Código Penal, de maneira bastante cômoda, distingue uns dos outros pela premeditação. Vivemos o tempo da premeditação e do crime perfeito. Os criminosos de hoje não são mais aquelas crianças desarmadas que invocavam a desculpa do amor. Ao contrário, eles são adultos e seu alibi é irrefutável: é a filosofia que pode servir para tudo, até para transformar assassinos em juízes. Em "O Morro dos Ventos Uivantes", Heathcliff mataria o mundo inteiro para possuir Catarina, mas ele nunca teria a idéia de justificar seu crime através da razão ou de um sistema. Ele simplesmente o cometeria, nisto reside toda a sua crença. Isto supõe a força do amor e o caráter. (...) Mas, a partir do momento em que, por falta de caráter, se recorre a uma doutrina, desde o instante em que o crime se torna lógico, ele prolifera como a própria razão, ele toma todas as formas do silogismo. Ele era solitário como o grito, hoje é universal como a ciência. Ontem julgado, hoje faz a lei."(Camus, L'Homme Révolté, Gallimard, 1951).” Diz Mauro: “Qualquer semelhança aí acima com Bush e quejandos, não será mera coincidência...”

ÍCONE – Beto Q (betoq@yahoo.com), do Zadig (http://www.zadig.blogger.com.br/) , também me envia o seu comentário: “Caríssimo Nei: Bom demais para este "goiúcho" que é teu leitor há muito tempo, eu, um pobre-diabo do mais fundo Goyaz, reencontrar você neste "mar de conhecimento compartilhado" (que é ou deveria ser a Web).Não vou perder contato mais. Como você e meus seis leitores já sabem: seu "Outubro" é, e será por muito tempo, meu poema-ícone. E a cada novo outubro que Deus me conceder, lá estará estampado no diário ou na memória afetiva. Ah! Lembrando-me daquela Porto Alegre dos meus verdes anos de formação: Urgs, Grêmio, Ospa, Folha da Manhã, minha jovem esposa, minha primeira filha (Maíra), sonhos e poesia (com Proust espalhado para todo lado).” A poesia não seria nada, Beto, sem a recepção dos leitores, que abraçam o poema e o levam pela vida afora. Obrigado.

RETORNO – Sobre minha visita a Uruguaiana: do dia 21 a 26 deste mês, será realizada a Feira do Livro da cidade. Grande evento, que terá a repercussão merecida.

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