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3 de setembro de 2003

DIA DO REPÓRTER FOTOGRÁFICO

DIA DO REPÓRTER FOTOGRÁFICO

Soube já no fim do dia, mas segundo o Comunique-se, hoje é dia de cumprimentar o Marcelo Min, o Hélcio Toth, o Walter Firmo, o Thomas May (que me ligou hoje), o Luiz Machado, o José de Anchieta, o Raffaele Sgueglia, a família Bittar, com a qual tenho longa e extensa história, desde meus 13 anos, o Antonio Gaudério e tantos outros. Lembrar o JB Scalco, que hoje é nome de sala no sindicato (ou era, não sei mais), e com quem trabalhei na Caldas Junior e no Jornal de Santa Catarina e que morreu depois de fazer aquela belíssima reportagem de denúncia para o Coojornal junto com o Luiz Cláudio Cunha e que me contava histórias maravilhosas do lendário repórter Ruwer, de Porto Alegre, que um dia parou um avião para poder enviar uma matéria. Era um avião pequeno de uma pista pequena. O Ruwer foi assassinado e tinha sido o autor de uma série de reportagens sobre prostituição no Rio Grande do Sul. Scalco era muito vaidoso e curvava o corpo e o rosto para admirar-se e adorava ser citado pelo Ruwer nas reportagens.

Mandar um abraço para o Gaudério me trazendo fotos sobre a pauta Negócios na favela, feita há tanto tempo e que agora é um assunto carne de vaca até no Jornal Nacional. Tentar lembrar o nome daquele repórter fotográfico que um dia foi comigo numa favela em Portinho e fortografou um homem sendo apunhalado. Lembro o homem posando para a câmera mostrando o furo na barriga vertendo sangue. Lembro o fotógrafo chegando no jornal – Folha da Tarde - e sendo alvo da inveja geral e tendo suas magníficas fotos reduzidas na edição seguinte. Lembrar o Ayrton de Magalhães, que de tão sumido virou legenda, o primeiro repórter fotográfico a fotografar os travestis paulistas e autor da célebre foto da Marilia Pêra dando de mamar para o Pixote, que fez parte da matéria que publiquei na IstoÉ, a primeira (furo internacional) sobre o filme de Hector Babenco, pois Ayrton era still e sabia tudo e tudo me contou (foi uma baba fazer a matéria).

Lembrar da conversa de gênio do Walter Firmo, que foi praticamente quem lançou essa mania de se falar sobre o Olhar, tema acadêmico que na palavra de Firmo teve a atualidade jornalística necessária para tomar de assalto a imprensa. Ontem Firmo, comentando sua exposição maravilhosa sobre a nobreza da música popular, diz que as fotos que fez dos grandes artistas fazem parte da identidade dele, fotógrafo, o que revela o quanto ele é um dos membros dessa família que fotografou. Chamar Marcelo Min de gênio, não só por ser verdade, mas principalmente para vê-lo constrangido, já que não existe alguém mais democrático. Rir com Toth e Sgueglia, dois pândegos fantásticos, Toth chegando ao esplendor da sua arte com fotos que viraram linhas e texturas, repórter de rua e de calçada que nos revela a Sampa que não prestamos atenção; e o Sgueglia, que ainda vou prefaciar seu livro imprescindível, “30 anos de mãos em X”, só para zoar com ele e suas fotos sobre a indústria e os empresários. Descobrir com Min esse fotógrafo, o Egberto Nogueira, que tem fotos incríveis, que parecem fazer desandar toda a estética do Sebastião Salgado. Dizer que todos os fotógrafos consagrados, com Sebastião à frente, não valem uma só foto dessas pessoas que eu citei e outras com as quais trabalhei.

Mandar um abraço para as fotógrafas como Regina Agrella, olho atento sobre a cidade e a arte, Cristina Villares e Ana Luiza, de tantas redações, Andréa Felizolla com suas fotos inacreditáveis sobre o futebol, Eneida Serrano que do Sul nos envia as melhores imagens. Lembrar meu amigo recente e já um dos meus fotógrafos favoritos, Anderson Petrocelli, que faz chover em Uruguaiana com suas fotos da fronteira, absolutamente maravilhosas. Lembrar do inesquecível Uda, ou Leonid Strelaiev, que virou teste para quem quiser trabalhar em fotografia: “Conhece o Uda? Qual o verdadeiro nome dele?” Se souber, está empregado, se não souber vá procurar saber.

Dizer para eles: que Dia do Repórter Fotográfico coisa nenhuma, onde estão as fotos que encomendei e porque não estão na Arte, todas identificadas? Ou seja, estão todos demitidos e só admito novamente se for convidado para uma baita rodada de chope, na qual eu entrarei apenas com minha sede.

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